domingo, 4 de novembro de 2012

Das 15 bacias apenas quatro estão em situação de segurança hídrica




A Paraíba tem capacidade de acumular cerca de 4 bilhões de metros cúbicos d’água

 Das 15 Bacias Hidrográficas da Paraíba apenas quatro estão com segurança hídrica de 85.4% a 96.7% de água em seus açudes e barragens. Essas bacias são as do Curimatau, Gramame, Baixo Paraiba e Mamanguape. Nas demais bacias o volume de água acumulado varia de 55.9% a apenas 18.6%. Esse percentual inferior a 20% é a realidade da bacia do Espinharas. A bacia do Alto Piranhas está com 24.6%.

A Paraíba tem capacidade de acumular nos 122 açudes e barragens monitorados pela Agência Executiva de Gestão das Águas(AESA), cerca de 4 bilhões de metros cúbicos d’água e este volume é atingido em geral num ano de bom inverno. Mas, de acordo com levantamento feito pela reportagem de A União os 122 mananciais monitorados pela AESA estão hoje com cerca de 1,8 bilhão de metros cúbicos d’água, o equivalente a cerca de 48% da capacidade total de acúmulo d’água. Um percentual preocupante.

A Agência de Águas está atualizando informações e deve divulgar em breve os números exatos. É preciso que os paraibanos se conscientizem e economizem água para não enfrentar um racionamento. Na página da AESA os dados de outubro são os seguintes: volume atual acumulado no estado: 1.779.862.550 - 1,7 bilhão - A capacidade máxima total de reserva d'água é de 3.940.987.832 - 3,9 bilhões de metros cúbicos d'água.

No sertão uma das árvores mais resistentes à seca é o juazeiro. Na comunidade Cacimba Nova, no município de Conceição, o verde do juazeiro é simbólico. Tudo em volta é seco.

O processo de desertificação avança e modifica paisagens e vidas no semi-árido brasileiro. Na Paraíba não tem sido diferente e a seca deste ano, a mais intensa dos últimos 30, 40 anos, castiga a fauna, a flora, os rebanhos e o bravo povo principalmente do Sertão, do Cariri e Curimataú, Em nosso estado dos 223 municípios 208 estão com risco de desertificação. Ou seja, mais de 90% do território paraibano. A desertificação também pode ocorrer parcialmente no Litoral e totalmente no Agreste, Borborema.

As fotos desta matéria ilustram bem a realidade hoje no Sertão. São cenas comuns dessa estiagem feitas nos municípios de Santa Helena, Bonito de Santa Fé, Conceição, Santa Luzia, mas os rebanhos, a fauna e flora sofrem com a falta ou escassez de água em praticamente todo o território paraibano. Os caprinos resistem à estiagem mas tem morrido de fome e sede muitos bovinos. O prejuízo é imenso para os criadores.

Açudes
A Paraíba tem 10 mil espelhos d’água(açudes, barragens, barreiros, lagoas e lagos). Dos 122 açudes monitorados pela Agência Executiva de Gestão das Águas(AESA), apenas um está cheio. Outros sete mananciais estão secos, com menos de 5% de sua capacidade de armazenamento. Com capacidade acima de 20% do total existem hoje 93 açudes. A AESA informa ainda que 20 barragens estão com menos de 20% do volume total.


Situação das bacias hidrográficas hoje
O único açude cheio, transbordando hoje é o Olho D’água, da cidade de Mari. O manancial está com 868.320 mil metros cúbicos d’água. Os sete açudes secos estão nas cidades de Teixeira(Bastiana e São Francisco), São João do Rio do Peixe(Chupadouro I), Ouro Velho(Ouro Velho), Prata(Prata II), Monteiro(Serrote) e em São José do Sabugi o açude São José IV está totalmente seco.

Convivência com a estiagem
Para minimizar os efeitos da seca este ano na Paraíba o Governo do Estado desenvolve uma série de ações. Por meio do Comitê Integrado de Enfrentamento à Estiagem 19 mil toneladas de ração animal(forragem de sorgo e milho) estão sendo distribuídas gratuitamente com mais de 20 mil produtores rurais para tentar salvar os rebanhos. Cerca de 17 mil toneladas já foram distribuídas com agricultores dos 195 municípios que decretaram situação de emergência.

Agropecuaristas paraibanos começaram a receber esta semana complementação alimentar dos rebanhos bovinos, caprinos e ovinos nesse período de estiagem. O Governo do Estado lançou em Patos o Programa Emergencial de Manutenção do Rebanho. O programa também é destinado aos produtores inscritos no Programa Leite da Paraíba de forma a garantir a produção e a distribuição do leite à população.

O Governo do Estado investe R$ 7 milhões na distribuição com preço subsidiado de até 50% na silagem de milho ou sorgo, torta de algodão e farelo de soja. Foram adquiridas 4.225 toneladas de farelo de soja e torta de algodão e 4.400 toneladas de silagem de milho e sorgo. O programa é coordenado e executado pela Empresa Paraibana de Abastecimento e Serviços Agrícolas(Empasa).

Pontos de venda
A torta de algodão e o farelo de soja serão vendidos nos escritórios e armazéns da Empasa de Campina Grande, Monteiro, Patos, Itaporanga, Pombal, Sousa e Catolé do Rocha. Já a silagem, nos postos da Empasa de Campina Grande, Monteiro, Patos e Sousa.

Outra ação importante do Governo da Paraíba tem sido a perfuração e recuperação de centenas de poços artesianos nas comunidades rurais. O trabalho é feito pela Companhia de Desenvolvimento dos Recursos Minerais - CDRM, com sede em Campina Grande.

Sala de Situação
Em Campina Grande funciona a Sala de Situação, também conhecida como Centro de Gestão de Situações Críticas. Trata-se de uma ferramenta indispensável para manter órgãos como Defesa Civil e Corpo de Bombeiros informados sobre a possibilidade de chuvas intensas ou altas temperaturas, garantindo um atendimento rápido para a população.

Os dados agrometeorológicos informados na internet em tempo real também são acompanhados pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos(Singreh), que tem sede em Brasília. Para a implantação dos equipamentos foram necessários mais de R$ 2 milhões, investidos com recursos próprios do Governo do Estado e da Agência Nacional das Águas e da Financiadora de Estudos e Projetos(Finep).

Secas históricas
Em agosto de 1999 A União publicou a síntese de uma pesquisa do engenheiro agrônomo Joaquim Osterne Carneiro intitulado “As Secas na Paraíba”. A pesquisa do professor cita que ocorreu em 1692 a primeira seca que flagelou o Nordeste. Aqui no estado as secas mais notáveis ocorreram primeiramente nos anos 1723, 1745, 1777 e de 1791 a 1793.

Porém, foi a partir de 1877 que morreram de fome e sede meio milhão de nordestinos. Na seqüência, outros anos secos: 1900, 1903, 1904, 1915, 1919, 1930-1932, 1942, 1953, 1958, 1970, 1979, 1983 e 1998. Em 1999 a Paraíba sofreu com a seca verde. Houve problemas no abastecimento d’água.

Desertificação
"A Desertificação na Paraíba”, uma síntese do Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca no Estado da Paraíba - PAE-PB é um estudo assinado pelos professores Bartolomeu Israel de Souza – CCEN/UFPB e Tarciso Cabral da Silva – CT/UFPB.

Estudos indicam que o clima no semi-árido está cada vez mais seco e a temperatura da região tem aumentado. Além disso, áreas sofrem com chuvas mais intensas e com intervalos maiores que a média histórica.

A Paraíba, com superfície territorial de 56.584 quilômetros quadrados, tem 70% desta área no polígono das secas. As áreas onde as intervenções de combate à desertificação são mais urgentes são o Curimataú Ocidental; Itabaiana; Cariri Oriental e Ocidental; Seridó Oriental e Ocidental; e as regiões polarizadas por Cajazeiras, Sousa, Catolé do Rocha, Patos, Itaporanga e Piancó.

“A Desertificação na Paraíba” é um importante documento que sintetiza a problemática do fenômeno no estado e aponta medidas para combater esse processo. Grande parte do território paraibano está inserida no semi-árido brasileiro região onde há um elevado índice de aridez(a água que evapora é bem superior à água das chuvas). No semi-árido as chuvas são escassas(de 250mm/ano a cerca de 1.000mm/ano). Nessas áreas o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano é baixo. As populações são ameaçadas pelos efeitos econômicos, sociais e ambientais negativos provocados pela desertificação.

A desertificação é um tipo de degradação ambiental que ocorre em zonas de clima seco. O fenômeno é muito antigo mas só na década de 1970 o mundo passou a estudá-lo com mais atenção devido a grande seca que afetou parte do continente africano.

Estudos comprovam que a alteração climática que está ocorrendo no planeta é em virtude das intervenções humanas. A aceleração do desmatamento e do desflorestamento e a emissão de gases poluentes estão afetando a distribuição das chuvas e as temperaturas, por isso cada vez aumenta o grau de aridez nas zonas de clima seco.

O Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca no Estado da Paraíba – PAE-PB é uma ação do Governo da Paraíba com os parceiros UFPB, UFCG e UEPB, Ministério do Meio Ambiente, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – INCA e a Associação para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia – SCIENTEC.

No estudo os professores doutores Bartolomeu e Tarciso apontam as medidas para combater a desertificação e alertam que evitar que ela ocorra é a melhor solução. A recomendação é que nas áreas a serem utilizadas para uso agropecuário sejam adotadas práticas de conservação do solo. O estudo cita nove práticas que evitam a desertificação: consorciação de culturas; redução ou eliminação das queimadas; cobertura do solo; rotação de culturas(usar diferentes culturas a cada ano nas terras onde se pratica a agricultura); adubação; faixas de retenção de terra; culturas em nível para conter a erosão; plantio de alimentos que possam servir de forragem para o gado e o manejo da Caatinga para produção de alimento para o gado.

No Brasil são 1.488 municípios suscetíveis de desertificação e onde vivem 30 milhões de pessoas. A área total é de 1.340.863 quilômetros quadrados.

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